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Baixada Santista. Diretor: José Faustino Neto

Os desafios do pico “Dedo de Deus”, na Serra dos Itatins!

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Os picos em altas montanhas são a paixão de muitos alpinistas. A montanha conhecida como Dedo de Deus, na Serra dos Itatins, localizado no litoral sul do Estado de São Paulo, em área de preservação ambiental, traz dificuldades e arrojo aos montanhistas que procuram desafios em lugar de ampla beleza.

A História e seus desafios!

Lá no cume está a placa de bronze, e o percurso guarda pinos de escoras dos primeiros escaladores, muitos que fizeram história, como o grupo em 1957, formado pelos alpinistas: Augusto Riciardela Correia (Dudu), Waldemar Bucken – o Gavião -, Fernando Ribeiro, Bodinho, e Eduardo Motter. Eram 6h00 da manha, do dia 05.07.1957, quando eles saíram do local onde pernoitaram, na casa de Orésio – o guia, que quase sempre andava com uma espingarda pica-pau empunhada -; todos, rumo ao Dedo de Deus Paulista.


Mas, a expedição oficial de conquista do cume, se deu em julho de 1953, já com o guia Orésio, pelos irmãos Rodolpho e Roberto Pettená.
Antes, em 1950, um grupo de jovens aventureiros descobriram a montanha ainda virgem e até fizeram a sua primeira tentativa. Na época, Orésio os levou de caminhão por 9 quilômetros até o alto da Serra da Amoreira e depois por mais 8 quilômetros pela picada que terminava no Rio do Despraiado. Lá pernoitaram por uma noite e depois, seguiram até a base da pedra. Ainda ecoam as palavras do guia Orésio na saída:
– Vão lá e acabem com a lenda do Dedo de Deus. Boa sorte! – gritou.
Naquela mesma noite perderiam seu maior trunfo afugentado pelas grandes e peludas aranhas caranguejeiras que invadiam o barraco por todas as frestas. No percurso, escalaram por entre pedras, fendas, agarrando-se em raízes e touceiras de capim navalha até o chão despencar vertical por 100 metros. Na verdade escalavam uma gigantesca laca afastada 10 metros da montanha por imenso abismo que o ângulo de aproximação não permitia identificar. No galho mirrado de um arbusto viram a inscrição “O.R” gravada a talho de canivete. Mas, ao final, não lograram êxito.

A conquista dos Irmãos Petená!

Algum tempo depois, outra expedição partiu para o Dedo de Deus, mas foi impedida por chuvas torrenciais que se prolongaram por dias a fio e no retorno comunicaram o achado para o guia Orésio. Meses se passaram até que receberam um telegrama:
– Eu e amigo Rodolfo Petená escalamos pela fenda – pt – Atingimos Pico Dedo de Deus – pt – Abraços.
A história é narrada 25 anos após os fatos por Hamilton de Souza, membro da primeira expedição, no livro “Itatins, a montanha proibida” impresso pelas Edições Paulinas. E assim acabou-se o mito da última montanha virgem.
Um decreto de 1958 instituiu a reserva estadual de Itatins, depois em 1986 criou-se a Estação Ecológica da Juréia-Itatins (EEJI) e finalmente em 2013 outra lei ordinária expandiu a área para 84.379,33 ha onde até respirar é proibido sem autorizações e carimbos do Instituto Florestal.

Eu, conheço a história. Nasci, na Forquilha, exatamente no início da Serra da Boa Vista. Aos 3 anos de idade, entre as toceiras de bambu, via subir pela estrada – cortada a enxadão -, construída pelo meu pai, os jeeps subirem na Boa Vista. Hoje, só ruínas de uma era de ponta, 3 casas confortáveis, altas torres de 30 a 50 metros de altura, com televisão, centro de comunicação, etc, para uma época onde sequer existia a televisão a cores.Muito se fala, lendas se criam, mas a realidade – eu a conheço -, todas aquelas terras estão registradas em nome do meu bisavô Manoel Alves de Lima. E, não houve nenhuma indenização, ou mudança contrária a isso. E, mesmos os que habitam na terra – na prática, quase que como nativos -, tem suas histórias, inclusive eu. Meu avô, por parte de minha mãe, era funcionário da antiga Companhia de Telecomunicações do Estado de São Paulo (COTESP) que foi abandonada em 1977 com a chegada da inovadora tecnologia dos satélites estacionários.  E, meu avô por parte de meu pai, o proprietário de 3.000 mil alqueires, na área.

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É uma terra rica, que poderia ser explorada de forma sustentável, mas não ocorre. E, o Dedo de Deus, é apenas uma das muitas maravilhas que o lugar ainda oferece.

Vi, que na serra atrás do Despraiado, sentido Miracatu, num período de 30 anos foi todo devastado, tiraram madeiras, acabaram com nascentes, fizeram uma devastação total – pode ser comprovado no próprio google -, pior, sob os olhos – e conivência – com as autoridades protetoras do meio ambiente. Acabaram usando a reserva como meio de ofuscar a outra realidade, bem próxima deles.
Enfim, essa é uma outra historia. Por hora, vale a pena conhecer as maravilhas da Serra dos Itatins e as histórias da montanha “Dedo de Deus”.

Por Cesar Augusto Alves de Lima – 14.10.2021.

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