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Baixada Santista. Diretor: José Faustino Neto

Os filhos da Rua

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Não havia como ser diferente. O Calor era infernal. O ar condicionado não vencia. Todos em fila pareciam já estar acostumado com aquele trânsito infernal, menos eu.

Lá fora, homens sujos, crianças maltrapilhas, faziam parte de um cenário nada coerente. Era um antagonismo irreal, um sistema cruel imposto pela metrópole viva, sim ela era mais viva como nunca. Hoje, já era ela que alimentava o sistema. Fazia todos pensarem que eram felizes, que tinham o poder, que poderiam de fato controlá-los, mas, que ironia, mal sabiam que eram eles que faziam parte de uma engrenagem maquiavélica, que eram todos manipulados a pensarem que eram os maiorais.

A Metrópole, ela sim era a soberana. Ela nasceu pequena, cresceu, sofreu conseqüências, mas se adaptou aos poucos, ganhou força, criou anticorpos, mas hoje vive em ritmo crescente, controlador, superior, viva como nunca, ela tem vida. Quem poderia imaginar isso? Ninguém! Aqueles meninos de cabeças sujas, talvez com piolhos, fazendo malabarismo, graças e micos, pulando e rodando bolas, se equilibrando num show quase imperceptível. Era como se viam os poderosos executivos do interior de seus luxuosos carros.

– Moço me da uma ajuda – diziam sempre ao final cronometro entre um abrir e fechar de sinal.

Alguns, por gratidão ou medo, garimpava centavos e esticavam o braço, outros fechavam o vidro, eram superiores, deuses da ignorância, doutores do desdém, não sabiam nada, não conheciam nada. Talvez algum dia ao terminar seus últimos momentos de vida, alguns desses idiotas possam de fato se conscientizar do quanto eles também são responsáveis diretos por aqueles garotos sujos, lavando carros, pedindo esmola. Ninguém está alheio a essa responsabilidade.

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Mas, afinal a insensibilidade impera, políticos, empresários, religiosos, empresários, todos vivem numa guerra fria como nunca, onde os sentimentos são sufocados, onde a ganância é vitrine, a aparência é uma ferramenta de poder. Onde já se viu, 5% ser responsável por mais de 50% da riqueza do mundo? Não sabem eles que – todos sem exceção: ricos e pobres – mesmo estando em túmulos luxuosos, em palácios, em sarcófagos de ouro como fizeram os poderosos faraós, o fim será sempre o mesmo. Todos voltarão ao pó, sem vida, levado pelo vento, serão viscoso como a lama, sujos como nunca. Essa é a prova mais real de que somos todos iguais, que teremos o mesmo fim. A alma essa sim, pode seguir por caminhos diferentes. E a esses insensíveis cruéis e sem coração, que na hora do acerto de contas, alguém diga: que vão todos para o inferno, sem dó e piedade. Cesar Lima.

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